Uma Bienal de muitas emoções
#44: Indicações de lançamentos e reflexões sobre a Bienal do livro do Ceará
Boa tarde, pessoal!
Semana passada aconteceu a XV Bienal internacional do livro do Ceará. Tive o privilégio de participar dessa edição junto do Brota Coletivo, e foi uma experiência maravilhosa. Lancei minha plaquete de poemas, participei de duas rodas de conversa, declamei poemas em saraus e conheci muitos novos leitores.
Quero falar um pouco mais sobre essa experiência para vocês, mas antes, bora de indicações? Os dois livros que vou indicar essa semana são lançamentos super recentes, espero que gostem!
Queridinhos da semana
Livro
O novo livro de poemas da Ana Márcia foi lançado lá na Bienal do livro! Ele contém um poema narrativo, dividido em 8 partes, que conta a história de uma moça conhecida como viúva negra, porque matou 6 maridos. Uma coisa bem Lady Killers, sabe? O livro é baseado em uma história real, mas traz a perspectiva dessa mulher. Eu amei o fato de cada poema ser ilustrado. As ilustrações estão belíssimas, e a estrutura dos poemas me lembrou o estilo do cordel (apesar de não seguir a métrica). Adorei conhecer mais sobre essa história!
Plaquete
Essa plaquete da Isabela Bosi se tornou uma das minhas favoritas da Círculo de Poemas. Esse longo poema dividido em vários tempos é simplesmente sensacional. O estilo de escrita dela é muito fluido e, ao mesmo tempo, super imagético. É belo e incrivelmente impactante. Eu amei!
Série
Terminei de assistir a terceira temporada de Only Murders in the Building. Eu amo essa série, acho que tem um estilo de mistério bem Agatha Christie. Acho incrível como eles conseguem fazer todo mundo parecer culpado e te deixam na dúvida até o último episódio. A cada temporada, a série vai ficando cada vez melhor, com um timing cômico incrível e um elenco de peso. E o melhor: essa temporada tem a Meryl Streep!
Devaneios da escritora
Existe uma coisa que a maioria dos escritores morre de medo após lançar seu livro: vender.
Muitos escritores não percebem, ou não sabem, que, além de escritor, você precisa ser um vendedor de livros. Claro, se você tiver dinheiro para contratar uma boa agência literária ou alguém que venda por você, você pode ser unicamente um escritor. Porém, essa não é a realidade de muitos, principalmente no caso dos escritores independentes (eu inclusa).
Um evento como a Bienal escancara essa necessidade do escritor também ser um bom vendedor. A gente precisa falar, fora do papel, para se conectar com o público. Essa não é uma tarefa fácil, principalmente quando estamos competindo com grandes editoras, autores internacionais e nomes consolidados no mercado. Fora tudo isso, ainda há o grande obstáculo da desvalorização do livro. Para muitos, livro é muito caro, e comprar livros não compensa.
Vender livros na Bienal, inevitavelmente, nos faz enxergar no livro como um produto. Ou seja, se vemos um livro como um produto, é normal querer compará-lo com outros e achar que seria muito mais fácil vender um churros, por exemplo. Com certeza os carrinhos de churros da Bienal venderam muito mais churros do que vendi livros.
Porém, o livro não pode ser visto unicamente como um produto. Por um lado, precisamos saber vender, mas por outro, também temos que entender que a função da literatura vai muito além dos números.
O livro existe para expandir nossa visão de mundo, ampliar nossos conhecimentos, nos transportar para outras realidades. Há emoções que só podem ser sentidas ao ler um poema.
Na roda de conversa que participei, intitulada “Escrever para existir: o lugar das mulheres na literatura”, me perguntaram o que move minha escrita. Minha escrita é movida pela paixão. É essa pulsão artística, esse desejo de transmitir meus pensamentos e emoções por meio das palavras, que me faz querer continuar escrevendo e publicando.
Na minha plaquete, Dicionário de palavras etéreas, eu falo um pouco sobre meuamor pela escrita. Sobre como se apaixonar pelo outro e se apaixonar pelas palavras são duas coisas muito parecidas.
Se, nos primeiros dias de Bienal, eu fui pega por esse sentimento de ser só mais um número, nos dias seguintes eu consegui reestabelecer esse meu amor pela escrita.
Um dos dias que eu estava no estande, uma adolescente veio falar comigo. Ela disse que tinha lido meu livro, A ficção dos calendários, e que estava relendo e ilustrando os poemas.
Ela me disse que era autista, e interpretava melhor os textos ao fazer desenhos. Uma das coisas que ela mais gostou no meu livro foi sobre como ele fala de aceitação, de se aceitar como você é.
A ficção dos calendários é um dos meus livros mais pessoais, mas eu nunca tinha pensado sobre esse lado da aceitação. Eu quis falar sobre como o conceito de tempo pode ser algo muito pessoal, e, consequentemente, como todos temos visões diferentes da vida e do cotidiano.
Quando ela me falou sobre aceitação, entendi logo o que ela quis dizer. Não foi proposital, mas fez todo sentido. Eu sempre me senti um pouco estranha no mundo, ao guardar os sentimentos para mim e transformá-los em textos. Contudo, as palavras têm esse poder de mostrarem coisas que nem mesmo nós percebemos.
No fim, além de conseguir, de fato, vender livros, também voltei com minhas energias e esperanças renovadas. Ver as pessoas empolgadas ao me ouvir falando sobre escrita, ou ao recitar um poema, observar o encantamento em seus olhos quando eu explicava meus processos criativos e conquistar tantos novos leitores foi maravilhoso. Porém, uma das coisas mais importantes foi poder viver tudo isso coletivamente.
Estar com outras escritoras que admiro tanto, lutando pelo mesmo sonho e fazendo de tudo para nos ajudar trouxe um sentimento de pertencimento muito mágico. A vivência coletiva é muito importante para continuar seguindo esse caminho. Se, por um lado, a escrita é um ato muito solitário, por outro, a difusão dessa escrita pode e deve ser feita coletivamente.
Eu participei da Bienal do livro do Ceará pela primeira vez, como escritora, em 2022, e estive acompanhada de dois escritores muito talentosos, que se tornaram meus amigos queridos, Julie Oliveira e Patrick Lima. Essa primeira Bienal foi um ponto de virada na minha vida, porque percebi que era aquilo que eu queria estar fazendo. Era ali que eu queria estar.
A Bienal desse ano, por sua vez, serviu para renovar esse desejo, essa paixão e essa vontade de seguir nessa carreira e de tentar alçar voos cada vez mais altos. Dessa vez estive acompanhada do Brota Coletivo, repleto de escritoras também muito talentosas e queridas, que deixaram essa experiência muito mais leve e prazerosa.
Escrever não é fácil, vender não é fácil e manter a paixão acesa também é uma tarefa extremamente difícil. Eu ainda me questiono muito, todos os dias, mas viver essa Bienal de muitas emoções fez minha chama ficar mais viva.
E para algumas novidades:
Meu novo ebook, Delírio Silvestre, estará disponível gratuitamente no domingo de Páscoa! Já anota na agenda e lembra de acessar aqui para baixar.
Chegou uma nova remessa do Dicionário de palavras etéreas! Pedi alguns livros exclusivamente para a Bienal, mas como sobraram alguns, você pode comprar diretamente comigo por 30 reais, com frete incluso para todo o Brasil.
Também tenho novas cópias do A ficção dos calendários sobrando! Ele está custando 55 reais, com frete incluso para todo o Brasil. Para comprar o seu, basta mandar uma mensagem aqui ou pelo email beatrizcaldas17@gmail.com
Momento de leitura
Hoje, trago mais um poema do projeto de biografemas sobre o quarto de Eros e Psique. Ainda pretendo transformar esse projeto em uma zine virtual, para compartilhar gratuitamente. O que acham?
XI. O magma emerge pelas fendas na parede um cobertor de lava se estende pela cama a alta pressão liquefaz os corpos e mobílias o quarto, esse ambiente geológico
A news de hoje fica por aqui! Espero que tenham gostado desse pequeno relato sobre a Bienal, e obrigada demais por me acompanharem!
O seu entusiasmo é mesmo contagiante! Precisamos disso. Mais ainda: é necessário levar tudo para o ambiente escolar. A despeito do Ceará estar "fora da curva" e ter mais professores-incentivadores e alunos-leitores (e talvez isso não seja regra geral!) há um imenso mundo a se conquistar.
Eu, particularmente, pretendo investir nisso meus próximos 3 anos (como editor/autor, antes de virar a chave para outra ocupação em vista, a de psicanalista).
Aproveitando o espaço, sinto falta uma pegada mais pedagógico-literária - pois isso faria o professor se apropriar do literário a partir do seu ofício. A minha experiência junto às escolas aponta para esta necessidade ainda não atendida, pois a inversão (o literário se sobrepondo ao pedagógico) acaba por mais criar bolhas do que conquistando devidamente os professores!. Enfim, eis uma interessante trilhar a se percorrer!